Universitários orientados por Furtado questionam ensino de literatura
Fonte:
Folha de Pernambuco
O texto literário para alicerçar tão somente o ensino de outras disciplinas. A abordagem direcionada da literatura pelos docentes para que os educandos contabilizem pontos nos exames de vestibular. O caráter tradicionalista e um tanto enfadonho dessas práticas pedagógicas no ensino médio é alvo de um projeto encabeçado por graduandos do curso de Letras da Faculdade Frassinetti do Recife (Fafire). Orientados pelo professor de literatura brasileira e espanhola Alexandre Furtado, os universitários propõem a sensibilização, na sala de aula, para a função socializadora da literatura, encarada como instrumento de cidadania.
De acordo com a graduanda Claudete Souza, ligada ao projeto, o trabalho questiona o ensino da literatura atrelado, exclusivamente, a uma perspectiva linguística e à formação imediatista para vestibular. O desinteresse dos alunos expostos a este tipo de abordagem foi, inclusive, testemunhado por Claudete nas suas passagens por diferentes estágios. “Os universitários buscam, por meio do projeto e de uma prática pedagógica diferenciada, despertar nos alunos de ensino médio a sensibilização para elementos estéticos do texto literário, uma análise para além dos aspectos semânticos. A disciplina, claro, forma para vestibular, mas a literatura, sobretudo, problematiza o homem em sociedade”, reflete Furtado.
Ele explica que a intenção é levantar, a partir de uma perspectiva abrangente de ensino, como o aluno interage com o texto literário, entendido como patrimônio, já que envolve história, geografia e pode, dessa forma, despertar, no educando, o interesse por outras leituras. O resgate da leitura de obras literárias, como observa Furtado, favorece a sensibilização para os aspectos sociológicos e, consequentemente, a formação de um leitor crítico.
“O texto literário pode ser trabalhado, em sala de aula, com foco na socialização, no sentido de o discente enxergar a sociedade, a partir do material, e passar a se ver como agente transformador”, salienta o universitário Émerson da Silva, co-autor do projeto e que, inclusive, já começou a sentir os primeiros reflexos do método adotado entre seus alunos das redes pública e privada, como os do Colégio Normal Santo Agostinho, no Cabo. “Quando, por exemplo, trabalho textos revestidos de crítica social, a turma se sente impactada, se envolve. Além da fruição, eles também produzem. Há projetos de concurso de poesia, contato com cordelistas”, comenta.
Isabela Freitas, aluna de Émerson que cursa o 2º ano do Ensino Médio no Colégio Normal, passou a se interessar por literatura para além do ambiente escolar. “A aula de literatura era muito ‘gramatiqueira’, não me sentia estimulada para buscar outras leituras. Trabalhamos hoje com abordagem diferente e eu me interesso pelas obras literárias, passei a conhecer meus sentimentos, a ficar atenta às questões sociais. Leio mais poesia, literatura de cordel e peço outros textos ao professor para levar para casa”, encerra.